Vinho biológico premiadíssimo, de Ponte de Lima. Vinho verde? Não exatamente. No dia em que o DN foi à Quinta do Ameal, Pedro Araújo tinha acabado de chegar da Escandinávia. Quase duas semanas pela Suécia, Noruega e Dinamarca para demonstrar (uma vez mais), prova a prova, restaurante Michelin a restaurante Michelin, como se pode fazer um vinho nobre, ultra-elaborado, numa “pequena” quinta de um país do fim da Europa – em Portugal.
Pedro Araújo: “Da mesma forma que há música de alta-definição ou televisão de alta- -definição, também há alta-definição no vinho, e acho que aqui conseguimos ter essa alta-definição”
Traços típicos deste Minho/Portugal: Pedro tem para gerir 12 hectares de vinha e não quer muito mais. Sabe do que a sua vinha é capaz – ao estender o olhar a 360 graus, vê-a em todos os pontos.
É uma dimensão perfeita para controlar o processo todo, sem adquirir matéria-prima a ninguém e assegurar cada um dos pontos de qualidade e estratégia definidas com o seu enólogo-consultor, Anselmo Mendes. A Quinta gera dez empregos, factura 200 mil euros e 40 a 50 mil garrafas por colheita, 60% das quais para exportação.
É uma dimensão perfeita para controlar o processo todo, sem adquirir matéria-prima a ninguém e assegurar cada um dos pontos de qualidade e estratégia definidas com o seu enólogo-consultor, Anselmo Mendes. A Quinta gera dez empregos, factura 200 mil euros e 40 a 50 mil garrafas por colheita, 60% das quais para exportação.
Voltemos à Suécia, onde esteve recentemente Pedro Araújo. O seu Ameal Special Harvest já está espalhado por mais de 30 restaurantes Michelin por toda a Europa, mas de Estocolmo trouxe mais uma pequena vitória: uma encomenda de 180 garrafas de meio litro que custam à saída de Portugal entre 30 a 40 euros para um dos três melhores restaurantes da capital sueca.
Pode parecer pouco para quem só está habituado a ouvir falar de milhões nos média, mas isto é ouro. Por duas razões: uma, a de que o valor por litro é provavelmente o mais alto obtido por uma garrafa de vinho feito no Minho a partir de uvas normalmente usadas em vinhos verdes ou Alvarinhos e cujo valor por litro é incomparavelmente inferior. Depois, porque o “Special Harvest” é pura inspiração: não se trata de um vinho para as refeições, mas uma espécie de vinho para sobremesas ou acompanhamento de queijos e doces. Não por acaso é produzido usando uvas passas, acompanhadas com extrema atenção durante alguns meses após a vindima, que produzem oito vezes menos quantidade do que se fossem destinadas a vinho comum.
Convém revelar, entretanto, que há na Quinta do Ameal uma vantagem competitiva enorme. Está no ADN. Pedro Araújo pertence à família que liderou a Ramos Pinto, secularmente ligada ao vinho do Porto. Na verdade, a Quinta do Ameal, fundada em 1710, foi adquirida, em 1989, por Nuno Araújo, com parte do capital resultante da venda da histórica empresa de vinho do Porto Ramos Pinto aos franceses da Louis Roederer.
Até agora foram investidos mais de três milhões de euros na Quinta do Ameal e entretanto a nova geração – neste caso o filho, Pedro Araújo – reinventa o negócio a partir de outros conceitos. “A ideia de vinho verde é errada, porque todo o vinho é feito de uvas maduras”, tem dito repetidamente o empresário ao longo dos últimos anos. Mas a sua crença no cluster do vinho português fá-lo dizer que, mais do que o sol ou a praia, o primeiro argumento para vender turismo português deveria ser o estupendo vinho que produzimos por cá.
Luxo no enoturismo associado à marca
Por essa razão, a Quinta do Ameal tem em fase de finalização oito alojamentos premium para turismo ligado ao prazer do vinho. São casas/suites, algumas delas duplex, onde é possível ter muitos metros quadrados de espaço para descansar, piscina biológica numa das nascentes da quinta e paisagens de vinha ao fundo, a perder de vista. Por perto há uma balaustrada com sombra para ler e cheirar flores, chuveiros ao ar livre para banhos de fim de tarde e, por fim, o rio Lima ao fundo.
Pedro Araújo acredita que os turistas e profissionais ligados ao vinho vão dar vida à quinta em estadas de semanas ou fins de semana. Provas gastronómicas, jantares temáticos com vinhos a rigor, passeios retemperadores e o extra de um bosque de árvores centenárias são os argumentos. Além disso, Pedro Araújo pensa que não terá melhor cartão-de-visita para jornalistas e clientes do que convidá-los a sentir in loco onde o vinho Ameal nasce.
O projeto do enoturismo, bem como muitos dos investimentos da Ameal, contaram com o apoio do Proder – Programa de Desenvolvimento Rural. Pedro Araújo pensa que, se tudo correr bem, o turismo pode acabar por gerar um volume de negócios anual que se aproxime do obtido pelo vinho. Esta complementaridade é o segredo de muitos dos projetos portugueses e casa bem com a nossa vocação: receber bem, reforçar a gastronomia, vender melhor o vinho. Demora anos, mas esta mudança está em marcha.
Daniel Deusdado
danieldeusdado@faroldeideias.com
danieldeusdado@faroldeideias.com
Sem comentários:
Enviar um comentário