sexta-feira, 28 de março de 2014

Os impactos do Réchauffement de la Planète – a versão francesa do Aquecimento Global – no mundo do vinho


Por Rogerio Ruschel, de São Paulo, Brasil (*)

A preocupação com o aquecimento global do planeta (o Réchauffement de la Planète  em frances) em suas várias frentes também chegou ao mundo do vinho. A mudança da temperatura, do calor no solo, dos ventos e dos ciclos de chuva cria problemas e demanda soluções de técnicas agrícolas como a pesquisa por novas variedades de uvas e técnicas de cultura dos vinhedos (imagem acima), como também no contexto da produção de vinhos mais “ecológicos”. É a sustentabilidade na taça, procurando preservar os aromas naturais da uva, identificados pelos especialistas em degustação e ilustrados neste poster abaixo. 

Os franceses estão preocupados – ou pelo menos parece mesmo que estão. Uma das reações já é conhecida e dá frutos: grupos franceses (ou de investidores globais com sede na Inglaterra, Estados Unidos ou paises árabes) vem adquirindo há mais de 10 anos grandes extensões de terras e propriedades no sul da América do Sul como na Patagonia Chilena e Argentina (veja abaixo) ou em outras fronteiras do novo mundo, por conta das macro-tendências climáticas. Conforme estudos científicos, com o aquecimento global estas regiões vão ficar cada vez quentes e mais interessantes como terroir para vinhedos de espécies adaptadas de vitis niviferas.


Mas também trabalham na adaptação ao Réchauffement de la Planète (o Global Warming, Calentamiento Global ou Aquecimento Global em frances): um grupo que reune 23 laboratórios franceses envolvidos num projeto batizado de Projet Laccave, para definir uma estratégia climática para a indústria. Os “laccavistas” trabalham com institutos de pesquisa para entender a evolução dos vinhedos diante do fenômeno e encontrar respostas para os viticultores e um conselho científico composto por especialistas da Europa, África e Américas, participa do trabalho. O objetivo é oferecer vinhos mais saudáveis para os consumidores – que hoje são ainda jovens e crianças com os quais já se fazem programas de eduação ambiental (veja fotos abaixo).

Em outra frente, a preocupação dos consumidores com a saúde também está provocando mudanças em termos de sustentabilidade. Em paralelo às pesquisas o mercado vai ampliando a procura por vinhos mais “ecológicos” por conta de noticias como esta que circulou em 2012 e sacudiu o mundo dos produtores: testes realizados com mais de 300 vinhos franceses descobriu que apenas 10% deles estavam limpos de quaisquer vestígios dos produtos químicos utilizados nos tratamentos dos vinhedos. E segundo consta, as vinícolas da Europa utilizam cerca de 30 mil produtos químicos diferentes, razão pela qual editoras publicam guias e estudos sobre produtos químicos e vinhos, como este abaixo da Vinatur.org

Hoje você pode encontrar em lojas ou restaurantes estes vinhos com apelos ecológicos sem dificuldade. Alguns são produzidos em vinhedos certificados como 100% ecológicos (ou próximo disso), outros não fazem nem a limpeza do “mato” (que na verdade não é “mato”) entre as mudas das videiras, como nesta foto abaixo, do vinhedo da Pita Loca, da Espanha. 

Se você se preocupa com o meio ambiente estes rótulos são uma boa alternativa de consumo, desde, é claro, que ofereçam o que se espera de um bom vinho: sabor e boa relação custo/benefício. E na verdade, mais do que isso em um vinho “saudável” como sintetizado no rótulo abaixo, que mostra que o produto contém cultura ancestral, emoções, trabalho de familias, um modo de vida diferente, sulfitos naturais, etc e tal.

O que é um pouco mais dificil porque produzir vinhos sem a lógica da produção massiva que requer o uso de defensivos, pesticidas e produtos quimicos, ainda dá mais trabalho e é mais caro - mas permite obter-se uma produção de uvas com mais qualidade e cachos com uma melhor concentração de açucar (como as que, aparentemente estão na foto abaixo) com as quais se pode fazer um vinho muito mais saudável. 

Temos vinhos assim no mercado há mais de 30 anos e a produção de vinhos mais ecológicos vem crescendo om regularidade, embora ainda signifique menos de 5% do total mundial. São vinhos produzidos com Agricultura Racional, Cultura Biológica ou Orgânica, principios de Biodinâmica e vinhos Naturais. Em outro post você vai saber como se caracterizam estes tipos de “vinhos ecológicos”, conhecer um pouco mais sobre a legislação e a classificação deste vinhos. Até lá, um brinde a quem respeita a natureza.

Veja um bom exemplo de produção vinícola ecológica na Espanha em http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/09/enoturismo-inteligente-na-andaluzia.html



(*) Rogerio Ruschel (rruschel@uol.com.br ) mora e trabalha em São Paulo, Brasil, onde é jornalista, enófilo e consultor especializado em sustentabilidade socioambiental. Ruschel é editor do blog In Vino Viajas, de enoturismo, cultura do vinho e turismo de qualidade, que tem leitores em 87 países – Acesse em http://invinoviajas.blogspot.com.br/



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